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EDUCAÇÃO DE QUALIDADE SE FAZ COM RESPEITO
Por: TEREZA LEONOR APARECIDA BARROS GUIMARÃES MILANO
  Atualmente ouvimos e vemos diariamente da mídia em geral, as diversas situações de violência que acontecem nas instituições de violência que acontecem nas instituições escolares e que deixam a todos estarrecidos.
No entanto, passado o susto com os atos acontecidos, tudo volta ao normal. A maioria das pessoas acaba esquecendo até que outro fato venha acontecer e a violência passa a fazer parte do dia-a-dia das escolas configurando-se como um espaço a mais em que as pessoas transitam e se expõem às suas conseqüências.
Porém, para aqueles que estão no centro dos acontecimentos, nada disso é normal, natural. Professores, funcionários, alunos, pais, sentem-se oprimidos diante das manifestações de violência e seus efeitos.
A violência, em todas as suas formas, assusta, incomoda, deixa “rastros” que não se apagam facilmente.
Às vezes a escola não vivencia atitudes extremas de violência, mas convive com suas ramificações:indisciplina, incivilidade, bullying, desrespeito. O que se percebe é que todos esses aspectos passam pelas relações interpessoais que se desenvolvem no interior da escola. É fato que esse aspecto, isoladamente, não dá conta de resolver o problema, nem é o responsável pelos conflitos acontecerem. Mas, sem dúvida alguma, o clima escolar que resulta dessas relações propicia os acontecimentos tanto positivos, quanto negativos.
Colaborar para que esse clima seja o mais favorável possível é tarefa de todos. A família não pode abrir mão de sua responsabilidade e função formadora e educadora. Precisa estar atenta, amando e acompanhando seu filhos e, principalmente, colocando-lhes os limites necessários para que cresçam como pessoas saudáveis, capazes de conviver com seus semelhantes dentro da grande diversidade que compõe os grupos humanos.
O quadro de conflitos escolares que a mídia vem apresentando constantemente mostra uma escola, muitas vezes, sob o domínio do medo.
As “pequenas  e inofensivas travessuras” que sempre fizeram parte do cotidiano escolar evoluíram e seu caráter inofensivo desapareceu.
As indisciplinas têm sido planejadas com o intuito de desestabilizar o professor e atrapalhar a aula. As agressões entre alunos e destes com professores têm se intensificado de maneira assustadora.
Diante desse panorama, é necessário estudar, analisar, dialogar, verificar o que pode ser feito, enfim, procurar caminhos para conter, enfrentar, reverter e prevenir esse quadro. Esse é o desejo de professores, diretores, pedagogos, funcionários, pais, enfim, de todos aqueles que fazem parte do universo escolar. Não se pode deixar a escola perder a sua identidade e cruzar os braços esperando que os conflitos se resolvam por si mesmos ou acreditando que os alunos que causam os conflitos não têm mais jeito, que são inaptos ou que serão desajustados para sempre. São eles vítimas das famílias desestruturadas, da vulnerabilidade a que estão expostos pelo demasiado “tráfico de entorpecentes” no entorno das escolas, pela injustiça social e outros diversos fatores que influenciam diretamente em sua formação.
É necessário que a escola e toda sua equipe repense seus ideais e idéias, lembrando que o ser humano precisa estabelecer boas relações de convivência e que daí virá um clima escolar saudável e favorável à aprendizagem e ao desenvolvimento das potencialidades de cada um.
Mas, extremamente necessário que toda a sociedade cumpra com o seu papel de colaboração, pois, como estabeleceu a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Diante do fenômeno tão intenso da violência nas escolas e a polêmica de como enfrentá-lo, origina-se a necessidade de repensar o papel de todas as instituições que compõe a sociedade atual, começando pela família e se estendendo por todos os organismos sociais principalmente pelos órgãos públicos de todas as esferas (Municipal, Estadual e Federal) dando o suporte necessário para as escolas e sem dúvida alguma valorizando os Profissionais da Educação.

27/07/2011 | EDUCARE  -  JORNAL CRUZEIRO DO SUL

Professores precisam ser líderes na sala de aula

Assumir essa postura pode ser uma boa alternativa para resgatar a autoridade perdida
Notícia publicada na edição de 27/07/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 12 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Regina Helena Santos
      
regina.santos@jcruzeiro.com.br

Liderar. Dirigir na condição de líder, aquele indivíduo que chefia, comanda ou orienta, em qualquer tipo de ação, empresa ou linha de ideias. A definição, que no imaginário popular representa a função ocupada por grandes executivos, chefes de Estado e até treinadores de equipes esportivas, também deve fazer parte do dia-a-dia dos educadores. Para aqueles que estão nos cargos de coordenação ou direção, por exemplo, a necessidade de ser líder parece algo facilmente compreensível. Mas e quem está em sala de aula, diante de dezenas de crianças e adolescentes? "Dentro do processo educacional nós, professores, somos líderes. E a nossa liderança perante nossos alunos deve ser pensada", foi o alerta do professor, psicólogo e pedagogo Julio Furtado aos 1,5 mil participantes do 13º Seminário Internacional de Educação, promovido pela Prefeitura de Sorocaba na última semana.

Ser um líder em sala de aula pode ser a oportunidade dos docentes resgatarem a tão almejada - e perdida - autoridade. Isso porque, segundo Furtado, faz parte das características de um verdadeiro líder ter poder sobre seus liderados. Mas é essencial saber gerenciá-lo. "O poder produz efeitos, demonstra uma relação social e controle." Diante de uma classe lotada de alunos, assumir esse papel parece ser a solução para que as regras de obediência e respeito voltem a funcionar. Porém, Furtado alerta que o tipo de poder a ser utilizado pode significar a diferença entre o sucesso e o insucesso.
As definições sobre os tipos de poder, aplicadas pelo professor Julio Furtado e apresentadas em suas palestras, têm como base os estudos do filósofo, economista e escritor americano John Galbraight, destacados em seu livro "Anatomia do Poder", para quem existem os poderes condigno (baseado na punição), compensatório (na troca) e condicionado (no convencimento). Os dois primeiros podem até dar resultados mais rápidos, mas é o último que pode, efetivamente, transformar a sala de aula. "Esse é um poder de natureza educativa. Ele dá trabalho, é preciso ser um bom argumentador. E é exatamente em relação a este poder que acredito que a educação vive uma crise. Os educadores estão perdendo a capacidade de argumentar. Mas só se educa através do convencimento", opinou. 
Na prática, os alunos precisam se convencer da necessidade de aprender determinado conteúdo, de fazer silêncio na hora em que o professor fala ou ainda de cumprir os deveres de casa a partir da explicação, por parte de seu líder - o professor - do porque aquilo tem que ser feito daquele jeito. "Estamos vendo muitos líderes educacionais perdendo a paciência de fazer isso. Mas o poder condicionado deve ser, sempre, o primeiro recurso", ensinou Furtado aos educadores sorocabanos.
A eficiência dos poderes cognitivo e compensatórios, entretanto, também é certa, mas estes devem ser aplicados somente nos casos de "emergências". "O poder condigno, da punição, sofre preconceito porque está poluído, está ligado, erroneamente, à cara feia e à falta de amor. Mas é um poder lícito, não é ruim. Só que não transforma, não educa", argumentou o psicólogo, referindo-se a práticas bastante comuns no cotidiano escolar, como o castigo aplicado ao aluno que não permaneceu em silêncio ou não fez a lição, por exemplo. Já o chamado poder compensatório, também bastante usado - "se vocês fizerem a tarefa vão ser dispensados dez minutos mais cedo" ou "se cumprirem as regras ganharão um ponto na nota", por exemplo - é considerado por Furtado outra forma até eficiente de autoridade. "Você me obedece e eu satisfaço o seu desejo. Mas o problema é que este também não é transformador."

Líder nato? 

Diante de tantas definições sobre o real papel de um líder e o desafio de ser o detentor do poder em sala de aula, surge o inevitável comentário: "fulano de tal" já nasceu para ser líder. Furtado alerta que nem sempre é assim. "A pessoa pode ter determinadas características que o ajudam a exercer a liderança. Mas é possível desenvolvê-las."
Para ser colocada em prática, a liderança exige três pré-requisitos: coragem para ousar, competência técnica e crença de que é possível. "As pessoas confundem liderar com gerenciar. Aos gerentes cabe manter as coisas funcionando como precisam funcionar. Já os líderes devem olhar os processos e, por melhor que estejam sendo feitos, enxergar possibilidades de melhoria", comentou. Na prática, vivenciar a frase "está tudo funcionando bem, mas a gente pode melhorar sempre". Cabe ainda ao líder - e, na opinião do psicólogo, aos professores -, a obrigação de desenvolver a equipe que lidera - no caso, os alunos. "Ouvimos muitos educadores dizerem: com essa turma, não vamos chegar muito longe mesmo! Mas a essência do verdadeiro líder é o processo de desenvolvimento." E as discussões, as trocas, os famosos combinados? "Um verdadeiro líder discute as formas de controle com seus liderados e busca ver a situação pelos olhos dele. É possível discutir as formas como as coisas vão acontecer, mas deve-se deixar claro que o controle vai ocorrer, não é isso que está em discussão", comentou. "Ninguém dá o sangue pelo sonho de ninguém. Para que eu dê o sangue pelo seu sonho é preciso que esse sonho seja um pouco meu também."

22/07/2011 | SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO  -  JORNAL CRUZEIRO DO SUL

Para Augusto Cury, educador é cozinheiro do conhecimento

Notícia publicada na edição de 22/07/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 8 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.


Foi usando exemplos da própria vida que os dois palestrantes do período da tarde mostraram aos educadores presentes no Seminário que só é possível ser um bom professor se em primeiro lugar você acreditar naquilo que está fazendo e tentar ao máximo estar próximo de seus alunos.

José Inácio da Silva Pereira, o Pachecão, professor de Física e precursor do estilo aula-show no Brasil, proporcionou aos presentes uma verdadeira palestra-show, arrancando assobios, aplausos e muita gargalhada da plateia. Com o tema "Transformando a Sala de Aula", Pachecão mostrou que é possível ensinar brincando e que a escola não precisa ser formal, burocrática, ela pode, aliás, ser muito divertida. "Ao nos aproximarmos dos alunos, a gente está salvando vidas, queridos", argumentou aos professores.
Pachecão falou sobre sua própria história e as dificuldades enfrentadas, mas sempre com a meta de "um dia chegar lá". Nascido em Laranjal, cidade do interior de Minas Gerais, ele contou que tinha o sonho de gravar um CD e de aparecer em uma novela da Rede Globo, algo um pouco fora do comum para quem queria ser professor. Por isso ele aconselhou que é preciso ter na mente uma boa dose de loucura para se realizar na vida. "Só os homens normais não sabem que tudo é possível", escancarou para a plateia.
O fato é que no período em que lecionava em cursinho resolveu criar um tipo de revisão de aula com música, surgiu daí uma banda em que ele era o vocalista (mesmo sem saber cantar), a conclusão é que lançou um CD, foi parar no programa do Jô Soares, e, quem diria, naquele seriado, uma espécie de mininovela "Sandy e Júnior", exibido pela Rede Globo! "Se você não tem motivação, vibração, é porque você não gosta daquilo que faz. Mas seja lá o que você fizer, seja bom nisso, chegue na sala de aula pulsante. Você só tem na vida aquilo que você escolhe", disse.
Na sequência, o escritor e psiquiatra Augusto Cury subiu ao palco para falar sobre "O Educador do Século 21" e sentenciou: "Os professores de hoje tornaram-se cozinheiros do conhecimento para uma plateia com pouco apetite". Sim, os alunos estão desmotivados, mas os professores também. O psiquiatra atribui o problema à síndrome do pensamento acelerado, que acomete grande parte da população mundial. Um exemplo dessa situação é quando uma pessoa planeja 10 meses antes as suas férias e quando chega o dia de se divertir, já está aborrecida. São indivíduos que já começam lendo o jornal a partir da última página, que chegam a uma festa já querendo ir embora, não se satisfazem com as coisas, não sabem aproveitar os momentos. "Essa síndrome tem levado a um caos na educação", disse.
Augusto Cury citou alguns exemplos de sua experiência pessoal com suas filhas para mostrar aos presentes que a aproximação entre professor e aluno é muito importante. "Por isso suplico: fale de sua história de vida para seus alunos, pelo menos cinco minutos por semana. Fale das suas lágrimas para que eles saibam que podem chorar as deles, para que eles saibam que ninguém é digno do pódio se não utilizar o próprio fracasso para subir degraus".
O psiquiatra, que desenvolveu uma das poucas teorias mundiais sobre o funcionamento da mente e a construção do pensamento, denominada inteligência multifocal, criou também o que chama de "Escola da Inteligência", um programa para integrar a grade curricular das escolas e que no Brasil está tendo grande adesão.


20/07/2011 | EDUCARE - JORNAL CRUZEIRO DO SUL

'O afeto é a base para a motivação do aluno'

Práticas eficientes na área de relacionamento humano para o sucesso na relação ensino-aprendizagem
Notícia publicada na edição de 20/07/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 12 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Regina Helena Santos
      Qual a fórmula mágica para resgatar a autoridade do professor e para que os alunos aprendam mais, melhor e com um desempenho que os ajude a ter sucesso na vida? Para o professor e mestre em Educação Marcos Méier, da Universidade Federal do Paraná, a resposta a este questionamento - que resume boa parte das angústias dos educadores em sala de aula - está em investir na auto-estima e na construção de uma relação afetiva entre o mestre e o aprendiz. "Nós, seres humanos, somos afetivos, desde bebês até nos tornarmos idosos. Por isso o afeto é a base da motivação do aluno", resumiu, durante recente visita à cidade de Votorantim, onde passou dicas e ensinamentos ao público participante do III Congresso de Educação.
Pesquisador e divulgador da Teoria da Mediação da Aprendizagem, do psicólogo judeu-israelense Reuven Feuerstein - que, ainda vivo, aos 90 anos de idade, continua seus trabalhos iniciados há décadas sob orientação de Jean Piaget - Méier acredita que a solução para os principais problemas enfrentados por docentes em sala de aula, desde os ligados à aprendizagem até aqueles de ordem disciplinar, podem ser solucionados a partir de posturas adequadas e do desenvolvimento e aprimoramento psicológicos. 
"Que aluno quer aprender com uma professora que não liga para ele? É o vínculo que vai servir de sustentação para as relações que vêm depois: autoridade, incentivo, motivação." Como exemplo do quão importante é a relação de amor e carinho entre professores e alunos, Méier lembra dos sentimentos em família. "A maioria das pessoas já evitou fazer coisas erradas não por medo de apanhar do pai ou da mãe, mas por medo de ver a tristeza, a vergonha por algo que desagradasse a eles. Se, como professor, as crianças te amarem, terão vergonha de não fazer a lição, vão querer aprender", acredita o educador. 

Barreiras pelo caminho 

Tão importante quanto criar o vínculo com os alunos é difícil fazê-lo, por parte dos professores. Isso porque o sucesso deste trabalho depende de fatores diretamente ligados às dificuldades psicológicas individuais de cada ser humano, como a capacidade de manter a auto-estima elevada e lidar com as carências - o que se torna um desafio, nos dias atuais, quando a pressão pelo sucesso absoluto tem causado muitos casos de depressão. "O professor que não tem uma boa auto-estima acha que a indisciplina do aluno é contra ele, leva para o lado pessoal. Por exemplo, um adolescente que reage contra o professor, não está reagindo contra a pessoa, mas contra a figura de autoridade. E um professor que está com uma boa auto-estima sabe disso e lida bem com a situação." 
Méier explica que a auto-estima elevada funciona como uma espécie de sistema imunológico mental, que ajuda o corpo a se defender de doenças como a depressão. E para alcançar o sucesso na relação consigo mesmo, o professor dá algumas dicas. "A mídia não quer que você se sinta bem com você mesmo, porque se estiver feliz, vai comprar o quê? Isso nos cria um sentimento de que não valemos nada, de que algo está faltando. Também temos que ter cuidado com os modelos, especialmente de beleza. Isso não existe e só deixa as pessoas frustradas. Modelo só existe quando temos cópias. Mas todos nós, seres humanos, somos únicos, diferentes. Se não existe ninguém igual, não existe modelo."
E na busca por elevar a auto-estima, Méier orienta os professores para que busquem ajuda, inclusive profissional, se necessário. "Infelizmente, os professores que não lidam com as próprias emoções estão prejudicando a vida de muitas crianças. Vale a pena investir em si mesmo", falou, referindo-se à procura por tratamentos psicológicos. 

Elogie do jeito certo 

Com a auto-estima em ordem, cabe aos professores usá-la para estabelecer os vínculos e para motivar seus alunos - a partir de sua própria motivação. E é nesse momento que o elogio - da maneira correta - ajuda muito o desempenho dos estudantes. Méier dá como exemplo um estudo relatado na edição de janeiro deste ano da revista Galileu. Psicólogos propuseram uma atividade, de média dificuldade, para dois grupos de crianças. Depois de solucionada a tarefa, uma parte do grupo foi elogiada por sua inteligência; a outra, por seu esforço na realização da mesma. Na sequência, numa segunda etapa - e nova tarefa - as crianças que haviam sido elogiadas pela inteligência não quiseram mais resolver o problema. As demais continuaram com a atividade. "Elas pensaram: "se eu errar, eu vou perder o elogio". 
Já as outras tinham como referência: "mesmo que eu erre, serei elogiado". Por isso, os professores devem elogiar o trabalho, o esforço, a dedicação, os valores, a solidariedade, a honestidade. Parem de elogiar a inteligência, a beleza, a capacidade. Como os alunos vão mudar essas coisas?", orienta o educador. Em relação às críticas - ou à necessidade de apontar um erro, também importante no processo ensino-apredizagem - Méier sugere aos docentes usar a resposta errada para explicar o certo. "Dá até para elogiar o aluno, agradecê-lo por compartilhar o erro, que ajudou a turma a aprofundar e entender o tema."
Para manter a auto-estima e a motivação dos alunos, o segredo do sucesso, segundo Marcos Méier, é a promoção da autonomia e da autoria. Ele dá como exemplo a educação infantil, o mestrado e o doutorado, etapas da educação que mais agradam os estudantes, de forma geral. "Nestas fases eles querem ir à escola, porque têm chances de criar, têm espaço para serem autores. Nas demais, não gostam da escola, é pesado, chato, porque é só cópia. A motivação vem do espaço para a criação." E o educador dá exemplos banais e práticos de como a escola, de modo geral, não reforça a autonomia de seus alunos. "Tem aluno que pergunta: professor, faz com caneta ou com lápis? Isso é só um exemplo das coisas que eles ainda esperam que a gente ensine, mostre, diga. Criamos seres muito dependentes e queremos que eles sejam felizes. Mas assim, não dá para ser."

Professor aposentado destaca a 

importância da autoridade e da disciplina

Notícia publicada na edição de 05/06/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 008 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

Aos 73 anos, o professor aposentado Ismael Andrade Leandro se diz da antiga ala de docentes, em que a autoridade e a disciplina eram a base que sustentava a relação com os alunos. Apesar da austeridade, ele levava também para as salas de aula a sua devoção para a religiosidade, adquirida na função de pastor evangélico, que desenvolvia juntamente com a carreira docente.
Nos 30 anos de profissão, o professor revela que acompanhou várias gerações de alunos e teve que se adaptar às novas realidades e demandas dos jovens e adolescentes. Mas garante que sempre conseguiu manter uma relação de respeito e também de amizade com os alunos. Ele reconhece que, atualmente, os professores enfrentam situações cada vez mais difíceis, embora a receita para se manter a disciplina e o respeito em sala de aula continue a mesma. "O professor tem que estar preparado profissionalmente, conhecer muito bem a sua matéria e atuar para despertar o interesse dos seus alunos para o aprendizado. O respeito dos alunos com o professor deve ser na mesma medida do respeito do professor com os alunos", acredita.
Em mais de três décadas atuando como professor de Inglês, sendo 23 anos deles na mesma escola da rede estadual no bairro Central Parque, Ismael diz que nunca sequer teve o seu carro riscado por um aluno. "Dei aulas para alunos de todas as idades, inclusive no período noturno, mas sempre procurei oferecer acolhimento a todos eles, mesmo quando uma bronca se tornava necessária. A minha filosofia foi sempre resolver os problemas dentro da sala de aula", afirma.
Ele considera que o principal problema que tem despertado atitudes de violência entre os alunos é a falta de uma base familiar, religiosa e moral, que faz com que eles percam alguns valores de referência. Por isso, o professor diz que sempre procurou desenvolver uma atitude pastoral, baseada no diálogo, mas, principalmente, mantendo um alto nível de ensino, com o desenvolvimento de métodos diferenciados de aprendizagem para despertar o interesse dos alunos. "Até cantar em sala de aula nós cantávamos", recorda. Aposentado há cinco anos, Ismael acredita que já cumpriu sua missão como educador. "Só tenho boas recordações".

Professores se sentem acuados

Notícia publicada na edição de 05/06/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 008 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

Rosimeire Silva 
rosimeire.silva@jcruzeiro.com.br
A agressão cometida contra um professor da Escola Estadual "Humberto de Campos" por uma aluna de 17 anos, que bateu em sua cabeça com um capacete de moto, não é motivo de surpresa para os professores que diariamente frequentam as salas de aula. Ameaças e agressões morais e físicas são situações que passaram a fazer parte de uma preocupante realidade, cada vez mais comum nas escolas.
Se engana quem pensa que esses episódios de violência contra os professores se restringem às escolas da periferia da cidade. Unidades de ensino instaladas em regiões centrais convivem igualmente com situações, no mínimo, de hostilidade no relacionamento entre alunos e docentes. O agravante nos bairros da periferia, onde o tráfico está presente, é que o ambiente escolar acaba sendo um prolongamento da influência da marginalidade, gerando um clima maior de tensão tanto nos professores e funcionários como entre os próprios alunos.
O coordenador regional da Apeoesp (Sindicado dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Alexandre Tardelli, diz que o pior dessa situação é que quase sempre os professores que sofrem esse tipo de violência sequer recebem o apoio ou intervenção da diretoria da escola, que opta por "abafar" para que o problema não chegue a público. Ele diz que diariamente recebe pelo menos um caso de reclamação de professor que se sente ameaçado ou foi alvo de algum tipo de agressão por parte de alunos.
Tardelli diz que esse descaso em relação à defesa da segurança e respeito ao corpo decente tem se refletido, inclusive, na falta de professores em muitas escolas. "Não se trata mais apenas de uma questão salarial, os profissionais estão se sentindo desrespeitados e desestimulados", comenta.

Processo e ameaças

Uma professora de português da rede estadual, que pediu para não ser identificada, disse que a situação de coação dos docentes chegou a tal ponto que muitos colegas hoje evitam até mesmo impedir que os alunos se ausentem das salas com a alegação de ir ao banheiro. "Eles (os estudantes) dizem o tempo todo que vão processar o professor." Segundo ela, um estudante chegou a urinar no lixo da sala de aula porque não foi permitido que ele saísse para ir ao banheiro. "Nós ficamos de mãos atadas, pois nem mesmo as famílias admitem que os filhos sejam corrigidos", diz.
De acordo com a professora, muitos colegas estão afastados da sala de aula por licença médica e pedindo transferência para outras unidades que julgam ser mais tranquilas. "Eu só continuo dando aulas porque tenho bons alunos e creio que eles não podem sair prejudicados em função disso, pois muitos já sofrem pela falta de uma estrutura familiar."
Aos 28 anos de idade, uma professora que atualmente atua na rede municipal, que também pede para ter a identidade preservada, disse que já pensou muitas vezes em deixar a carreira de professora devido a pressão que sofre dentro da sala de aula. Ela conta que, no ano passado, quando ainda lecionava em uma escola da rede estadual, chegou a ser ameaçada de morte por um aluno em uma auto-avaliação escrita. Ele tentou fazer um Boletim de Ocorrência sobre o caso, mas não conseguiu, porque julgaram que o caso não representava uma ameaça real. O aluno chegou a ser repreendido pela direção da escola e disse estar arrependido. "Mas, até que a situação fosse resolvida, eu tinha medo de ir dar aula, mas não podia faltar senão perderia a minha vaga."
No início deste ano, no segundo dia de aula em outra escola, a professora se viu novamente diante de uma situação de coação. Ela chegou a ser xingada de vagabunda e vadia por algumas alunas da sala que não queriam ficar quietas para que ela começasse a dar a aula. "Você tem que enfrentar e seguir para não perder a autoridade." Com formação em Ciências Sociais, a professora considera que essa situação é resultado do próprio meio social em que esses estudantes vivem. "Eles querem mostrar que existem, que estão ali. É uma forma de chamar a atenção para si e mostrar o descontentamento deles."

Reféns da violência

Com 15 anos de atuação na carreira docente, uma professora de Inglês, que preferiu não ter a identidade revelada, disse que a sensação entre os professores hoje é de estarem reféns da violência. E ela garante que essa situação não se restringe apenas a escolas públicas ou de bairros da periferia. "Eu já trabalhei e tenho colegas em escolas particulares e o problema de agressão verbal aos professores se repete. A questão é que os casos são abafados para que a imagem da escola não seja prejudicada. Eles preferem perder um professor a um aluno.Atualmente, como professora da rede pública, ela diz que as ameaças feitas por alunos contra os professores já se tornou uma rotina na maioria das escolas, tanto no Centro como da periferia. "Não podemos deixar o carro em frente à escola, pois a primeira coisa que fazem ao se sentirem contrariados é riscar a lataria ou furar o pneu." Mas outras situações mais graves também já foram presenciadas por ela. Entre eles, ela cita o caso de uma aluna que atingiu a professora com uma vassourada e também de um grupo de alunos de um curso noturno, que atirou cadeiras e carteiras da sala de aula quando o fornecimento de energia foi interrompido.
Mas o problema que mais tem provocado medo nos professores e funcionários das escolas, afirma ela, é a infiltração de traficantes nas unidades de ensino. "Existe um clima de tensão e os próprios diretores têm medo de tomar alguma providência contra esses grupos e depois sofrer algum tipo de represália." Segundo ela, alguns colegas chegam a evitar dar notas baixas para determinados alunos justamente para evitar algum atrito. "O professor que realmente está disposto a lecionar de forma correta está tendo muita dificuldade de exercer o seu trabalho."